Suor da vingança sintomática

Um foda-se
na pior das hipóteses, é oferecido
na melhor, um escarro
numa bandeja.

Se achas que compactuarei
com tua melancolia
abatida da minha jugular,
ledo fardo

De tua vida agridoce,
das onomatopeias de tua transa
sem gozo,
ledo engano

Dos dias de derreter
dentes
Dos carros fúnebres
que seguiste
De teu medíocre cigarro
no fim, bituca

O café que bebo
o resto que fica no copo
nem frio nem quente
o que é?

São teus olhos
célebres espiões
bebem conhaque às minhas custas
e comem do prato
que não lamberam

sabe o que lambi?
memória gustativa amarga
mais que tua alma não lavada
à seco.


Oito rodas de vida

Desbravo minhas idas e vindas por aí,
por não saber onde ficar, não fico

Minha família também é:
O moço,
na garagem da rodoviária
O cara,
que vende café perto do guiché
A moça,
que vende óculos e brinquedos
Os moleques,
a me pedirem trocados.

O bom dia,
boa tarde,
boa noite,  da recepcionista
que carinhosamente como uma parente,
já preenchendo o meu nome
sente-se minha tia!

A essa hora só há
os amores platônicos de minutos de espera,
o cheiro característico das malas,
e um cara-crachá carregando no meu semblante,
as tristezas danadas da vida.

“- Vai um dramim aí moça?”
 - Derrama tudo nessa garrafa aqui moço
minha solução é mesmo sono eterno
numa cadeira e sem ar-condicionado
e sem gente por perto.

Claro, a lua está em sagitário
destroços em exageros vívidos
acompanhando minha vida
já sendo parte dela.

Peau

Te quero nua.
Mas nua de alma quente
ou só com cropedd crochê,
ou algo que desnuda, coisa assim.

Mas pode ser nua
nua mesmo, vestida em sua pele
crua
em pelo também.

Sem pudores você diria.
Topo, é para isso que servem
todas essas paredes vigias
inveja presa
em tijolos e argamassa

luz acesa, meia luz
nada de escuro.
Narciso flerta em meus olhos
e dispara orgasmos
ao corpo aceso
flecha do pecado

língua, língua
peito, peito
coxa, coxa
expansão dos cosmos.

Seja verbo em vida

Andei e ando: Andarei?

Vi e vejo: Verei?
Insisti e insisto: Insistirei?
Desisti e desisto: Desistirei?
Amei e amo: Amarei?

na verdade

Conheci e conheço: Conhecerei?
O
Resisti e resisto: Resistirei?
R
Encontrei e encontro: Encontrarei?

morrerei.

a vida corre,
para,
e anda.

Dança da Alforria

Eu cantando a noite
Você dançando o dia
Eu cantando a noite,
Você com sua alforria

Eu cantando o que podia
Você dançando a noite
Eu cantando a noite, você dançando a noite
Você foi a noite

Minhas notas, soadas aos ouvidos
Melancolia de sobra
Recobriam de prazer e alegria
Tuas noites de outrora
A quem eu devia?

Pagar minha conta ralé
Aos teus pés, e também pedir a minha alforria
Alguma volta?
Troco por troco
Troco por uma má troca
Troco de uma esmola.

Script sujo de café

Acertou em cheio
O pote quebrou
Usando das frechas que a vida dá
O ouro de tão puro amassa

Como um escritor que senta
E escreve uma cena
Molha os lábios de seus personagens
Prepara para o clímax e sua mágica

Quem há de julgar?
A essa hora da madrugada, goles de negra droga
Um lápis a saltar uma ou duas linhas
A distorcer capítulos.
Meu desejo não vive em cubículos
Hoje ele esteve nas tuas mãos

Corpo que outrora afasta
Mas que puxa num silêncio
Toma-me feito um refrigerante desesperado
Em dia quente, Juazeiro escaldado.

Corre, entrega em dia suas falas pre ensaiadas
Pois já ensaie, já decorei
A posição que meus olhos estarão
Ao se aproximarem dos teus
Por toda a madrugada.

9 Janeiros

Essa lua de hoje parece trocar de cor
Pra me acompanhar, pra te acompanhar aonde for

Me parece que a vida carece, perece
De temperos indianos
Vívidos cotidianos

Se o amor hoje, não vier com gosto
Vem depois, com calor, com sabor e se transforma
De em beijo em diante
Há de transmutar

- Não use freio motor nessa ladeira flutuante!
Desliza em meu peito
Trilha e divide comigo esse Merlot
Tempero para todas as almas apaixonadas

O nosso orgulho de fibra carnívora
Há de gritar um viva naquela calçada, quando o Reisado passar
Seremos um casal imperial
Em dia de núpcias
Ainda com planos para o Carnaval.


Desencontro

A eternidade que durou os momentos de infortunas gargalhadas
Não dissipou aquela sombra, sombra de chuva de verão, por certo.
Não tomei conta, não me resolvi, não adestrei o que ficou.
Lá vem, a casa de Libra a me influenciar

Decreto, que de agora em diante
Haverá um rótulo esquizoide tatuado em minha testa
Feito de tinta barata, por um qualquer
Só assim, posso te explicar meus súbitos

Sorrisos, súbita tristeza, não te explico
De que adianta?
Oralmente te remeter, o que não é recebido.
Foram erros de outrora que me tornaram
Esse gato escaldado que te fita, mas finge.
Um café amargo de ressentimento e saudade.

Ê meu lado Ocidental!
Velho burocrático, sem sabor algum para sentimentalidades
Departamento de recordações
Transformado em sei lá o quê

Tardei
Me desloquei de mim, assoei o nariz,
Tomei um comprimido.
O silêncio contemplo, aliviado
Não escuto mais as gargalhadas.

Testamento

Meu bem, deixa quieto.
Eu voltarei.
Não antes de compreender
Que o dia dura quantas horas quisermos
E só dura 24 horas pra quem tem medo da vida.

Meu bem, voltarei
Mas somente quando o Sol bater
Nas cortinas dos meus olhos
Desafiaremos todas as superstições alheias
Deixaremos o futuro ser virgem em nossas vidas

O que sobrará de nós então, caso me pergunte
Restarão retratos escritos por nós
Versos com dedicatórias antes não vistas
Enfim plantaremos todas folhas das árvores
Que estão em nossos cadernos amarelados.

Talvez seremos cotidianos
Esses rios de águas contrárias
Que carregam afetos, e destroem vidas.

Descarrego aqui em tua memória
A minha terna juventude vivida.

Solo

Não me arrisquei
Não me arrisquei em olhar em seus olhos
Me endureci pra não mostrar a fraqueza das minhas fibras
E disse que não, vagamente me lembraria
Quando lhe disse sim alguma vez na vida.

E a cada negação, via a minha hipocrisia definhar
Abrir caminho por minha garganta
E gritar do fundo do peito - não vá!

Mesmo fuçando minhas quinquilharias
Não encontro um só momento
De desordem, de anarquia a me condecorar

Aqui dentro de ruas curtas e estreitas
Espirrando asfalto, cuspindo fumaça
Termino meus dias com olhos cansados
Cinzentos cascalhos...
Bom ou ruim, não me arrisco
Alguém me batiza com ajuda?
Alguém se arrisca por mim?

Encontro Óptico

Teus olhos tinham cor de ferida,
Ferida ainda aberta, em processo de cicatrização
- Queira Deus que estejam abertas!
Para acalentar teus distritos
E poder eu, cicatriza-las por dentro da pele

Como são interessantes as pessoas que não conhecemos!
Você somente observa com fortuito olhar. Nela estão nossos contos
Aquarelados de fantasia, romances carnais e sepulcrais

Eu reconheço-te, grande outra, pelos olhos.
Porque quando te olho, não te vejo por completa
E sim o que escapas ter.

O que sei de ti, me desculpe
Vai ficar somente guardado nativamente
Na retina das minhas órbitas.
É segredo óptico.

Intimidade

Me perdi nos ritmos cardíacos dos teus Mandalas
Que pendurados em tua face, hipnotizam todas as culturas

- Ela queria que fosse tua...
- E eu queria que fosse dela...

Minha alma deitou-se tão acomodada em tuas costas
Que tuas plumas flutuavam, afogando-se em minhas pernas
e quem diria, que o galo não mais cantaria,
no bairro São José, nada disseram

Enfim, por mim
Meus pés estavam finalmente fiéis
A andarem nus
pelo chão da tua casa.

Retrato Passional

Me despi.
Em casa, dobrei a liberdade e pus em cima da cama
Era noite com orvalho, e minhas mãos sugavam o ar.
pareciam desmascarar meu passado

Me vesti
Não percebi que ao sair de casa,
Um pássaro absorto pela manhã estava em algum ponto,
Dormindo fatigadamente.
Absorto estava eu ao querer minha vaga no mundo!
Dorme a cama, no silêncio interminável
E eu no mundo, lá fora...

Com que sonham os bichos?!

Fraternidade Francesa I

- Dar-me-ei água para beber!
- Não, café seria o melhor a essas horas...
Bem logo não sabes nada do meu corpo.
Duvido entre o corte curto ou comprido
Dos bustos bem comidos pela consciência

Não, não merecem sequer minhas linhas
Por tal rebuliço maciço
Desagregam cada fibra miocárdica minha
E patenteiam entre si.

Tingirão o mundo de vermelho,
Extraído do meu sangue, pintarão seus cabelos.
Gritariam que me amam
E aos quatro e outros ventos
Que lhe tocarem com galanteios.

E esta muralha ingrata?
Que junta e separa as confusões?
Perdido fico com esses sorrisos de leste e oeste
Metralharão meus ouvidos, meus olhos
Com nada de palavras leves.

REM

Meus olhos bem fechados
Entregam-se, pacificam
Meus olhos semicerrados
Duvidam

Meus olhos fechados
Aceleram, esperam
Meus olhos muito bem fechados
Alojam o sonho
Ou a morte

Meus olhos muito bem fechados
Fantasiam, desejam
Meus olhos são muitas vezes
A órbita do mundo

Alagoas

Pintei o céu com gotas de café
Piloto o cavalo ao infinito
Perguntei aos astros e a céu estrelado
Do campo em que pastei
Quantas cabeças de luas
Te darei, quando voltar dos céus

Dele nada escuto, nada sei
Meu cavalo não reluz a ouro,
Não destrói a luz do Universo.