Finitude

Eu deixei toda dicotomia de lado
de tudo jurar
Deixei minha calçada livre
até pra quem quiser sentar

Sabe o suco de oliva que ninguém bebeu?
ou a uva mordida, que ao ser sacudida
Pelos salivares cheios de cáries
já morreu?

Me demora o pensamento de infinitude
De que sempre haverá pé de manga, galinha, ovo
Pedra, pedrinha, minha viola, cortina

Mas nada disso vinha, em pausa de figuras
Senti-me fora
Desalinhado, sem eu, sem próximos
Sem nada para rotular

É indescritível a sensação de não viver
Quando se está vivo.

E o desejo?

Corpo, fatiado
Corpo, desejo em poros

Passei a contemplar sorrisos alcoólicos,
amórlicos, beijólicos
Ciganeei por teus poros,
te devolvi em suspiro a lambida batizada à tinto

Teus seios seguem e se perdem nas encruzilhadas das linhas da minha mãos
mas não leem destinos, passados ou vestígios
Seguem a trilha e a sinalização que ensina:
'Vai, mas com calma na descida, feroz
e saboreie a viagem!'

Dilatadas, as íris se encontram e tomam conta
De toda escuridão guiadas pelo tato,
cheiro e gosto.

Corpo, não mais fatiado
Corpo, desejos dilacerados
Corpo explosão em poros

Feira

E tem verdade mais verdadeira?
Há mais música sobre dor de amor
Que banana em domingo de feira.


Ciclo Amor-amebíase

Ame!
Platonicamente, sofrivelmente
Ame!
Não se nasce pronto
Ame, ameba! Ame!
Que tu verás finalmente o céu de Monet
E somente com os olhos inchados que poderás ver

Terás medo de se declarar
medo de chorar, medo de ser dar
De perder, de acabar

Mas no fim, sim há um fim,
Não se arrependerás, o rosto desincha
E voltarás a amar.