Cenas da Cidade

São privilégios que ainda não pude ter
Andar pelas calçadas do centro da cidade
Numa bela de uma conversa,
Com ouvido colado ao celular

De modo a contemplar uma fiel paisagem
Sentado no calor movimentado dos carros
As imagens cortam e enlaçam

O papel dinheiro
Sendo escoltado a sete balas
Para adentrar ao seu santuário
Protegido mais que vida humana
Prontos para te derrubar
Ao som de uma calibre 12

Manequins trancados
Gritam tons de eternidade
Não escolhida por eles
Mas gostariam de um dia serem livres
E voltarem à matéria prima
Invejando a finitude humana

Um viva às invenções humanas!
Tão humanas, só humanas
Que tornam gente como a gente
tão mais bacanas.

Choração de saudade

O meu choro é oração
das brabas, que fazem até santo chorar
É um pedido desesperado à saudade
que teima em visitar
Um grito no escuro, ardente
- Vai, me transporta pra lá!

Então é na noitinha
Nos meus velhos cotidianos
que oro, por ti
e creio que esses prantos chegam
E vão aos poucos descompassando o coração
Saciando a sede de lágrimas

A saudade vai
E quanto mais nada
menos morre afogada.

Estado de Coração

O meu estado de coração
É fardo demais
Tento a conformar
A tantos lugares frios

Meu estado de coração é fértil
Cultiva flores
E perfumam minh’alma
Deixará ser levado por corações alheios

Meu estado de coração é alerta
Ao um silvo longo de qualquer outro
Para bater em uníssono compasso

O meu estado de coração
Triste, melancólico
Às vezes por não ter achado
A sua pedra fundamental.