Testamento

Meu bem, deixa quieto.
Eu voltarei.
Não antes de compreender
Que o dia dura quantas horas quisermos
E só dura 24 horas pra quem tem medo da vida.

Meu bem, voltarei
Mas somente quando o Sol bater
Nas cortinas dos meus olhos
Desafiaremos todas as superstições alheias
Deixaremos o futuro ser virgem em nossas vidas

O que sobrará de nós então, caso me pergunte
Restarão retratos escritos por nós
Versos com dedicatórias antes não vistas
Enfim plantaremos todas folhas das árvores
Que estão em nossos cadernos amarelados.

Talvez seremos cotidianos
Esses rios de águas contrárias
Que carregam afetos, e destroem vidas.

Descarrego aqui em tua memória
A minha terna juventude vivida.

Solo

Não me arrisquei
Não me arrisquei em olhar em seus olhos
Me endureci pra não mostrar a fraqueza das minhas fibras
E disse que não, vagamente me lembraria
Quando lhe disse sim alguma vez na vida.

E a cada negação, via a minha hipocrisia definhar
Abrir caminho por minha garganta
E gritar do fundo do peito - não vá!

Mesmo fuçando minhas quinquilharias
Não encontro um só momento
De desordem, de anarquia a me condecorar

Aqui dentro de ruas curtas e estreitas
Espirrando asfalto, cuspindo fumaça
Termino meus dias com olhos cansados
Cinzentos cascalhos...
Bom ou ruim, não me arrisco
Alguém me batiza com ajuda?
Alguém se arrisca por mim?