Rede de Dormir /ê/ (substantivo)

 1. Que sustenta, ampara no ar

com energias em dois pontos

/opostos

harmonizam

a leveza de um ponto,

em comum:

2. quem sonha

o café me derreteu por dentro

o café me derreteu por dentro
destemperou meus olhos
embrulhou as tripas
enlaçou os nós
manchou minha camisa
branca
agora estampada
de um café fraco


2019

um poemete às 23:00

de que me adianta acordar as 6:30
se minha vontade foi embora as 00:26
e a exatamente, 5:34, ela acordou
num rádio relógio embaçado
que não distorcia o tempo, fazendo-a
deitar novamente
num lençol quente,
ente
a mim.

duas e 20
sonhava que me deixavas
pesadelo, recomponho aqui as palavras
caso ainda esteja sonhando
ou ainda
falando em voz baixa,
- meu bem...

22:55, bebi a quase cerveja
descida às pressas pelo corredor da casa
sacolejada e mal incorporada no corpo
apagamos às 22:57,
quase
que do chão não passávamos.

do que me adiantaria
ter negado convite, às 20:00
desviado de percurso
se às 22:03, meu relógio de pulso pararia
as respirações agiriam em conjunto
ponteiros cortando ar
lábios pontuais
são 6:31.

fim de festa

dancei com todas as minhas ilusões.
fiz palco na laje
dos raios de meio dia
holofotes para o drama
melancolia paliativa

o sol não havia se posto
apesar da foto desfocada
meu rosto
sorria por dentro.

inverso ou reverso
e em via de mão dupla
mais dia ou menos dia,
minhas pernas cansariam.
porque sofremos em degradê.

7:30

não sei o que me deu
que ao olhar pra você
com esse cabelo molhado,
com tantas certezas às 8 horas da manhã,
assobio de café quente.

parece que a tua imagem se enrola,
cada dia mais
nas cortinas da minha nova casa
cabelos sobre a cama
querendo semear meus sonhos
com tua certeza
de presença

É uma estrela, preta.

minha filha é uma estrela negra
retinta,
preta como a neve
black bird
pronta pra voar

em dias claros, com muito sol
suor e persistência
a distância se derrete
marrom

retinta,
minha filha é uma estrela negra
clara como a noite
preta como o dia

Ayo na multidão
visitando os sonhos
África Natal

lá vem!
a minha estrela retinta,
com o mar atravessado em sua garganta

a vida é uma moto há 80km/h numa curva fechada, em dia de chuva

tudo que brota, sangra
todo sacrifício
é morte vívida
se nasce sangue, flúido
morre pedra, pó

se nasce dente
mata a fome
permanece em vida.
na despedida da virgindade,
vida no Leste
óvulo infecundo,
vida no Poente

na vida-quase
há quem corte      - [matei um verso, bem aqui!]
e se seja cortado
em sacrifício que é

as estrelas, pó
a gente, sangue
as estrelas, luz
a gente, lágrimas

assim pedala o cosmos,
na vida
que é morte
e acima de tudo
tudo